Os longos anos de abandono condenaram alguns portos brasileiros a um perigoso processo de estagnação e decadência, fortalecido pela crise mundial e queda do comércio exterior. Os terminais, que já vinham sendo substituídos por outros portos pela deficiência de suas instalações, agora estão às moscas, com uma redução drástica na atracação de navios, como é o caso do Porto de Ilhéus, Maceió, Antonina e Cabedelo, entre outros. Alguns contam com as embarcações de turismo para incrementar as receitas, usadas para pagar funcionários e dívidas trabalhistas.
Enquanto isso, grandes portos, como Santos, Paranaguá, Pecém e Rio Grande, comemoram recordes de movimentação em plena crise mundial. Parte desse resultado é decorrente da exportação de produtos agrícolas, mas uma outra parcela refere-se à migração de cargas de terminais menores. Essa concentração, porém, não se sustenta com a retomada da economia global, alertam especialistas. Quando o comércio exterior se normalizar, o País terá não apenas de construir novos espaços, como recuperar áreas já existentes e degradadas.
Esse é o diagnóstico de um estudo feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que mapeou as obras necessárias para melhorar a eficiência operacional e competitividade dos portos nacionais. No total, o Brasil precisaria fazer 265 obras e investir R$ 43 bilhões na construção, ampliação e recuperação das áreas portuárias. O montante inclui ainda projetos de acesso terrestre, como ferrovias e estradas, dragagens e modernização dos equipamentos operacionais.
A necessidade de investimentos, porém, está distante da realidade. Nos últimos dez anos, o volume aplicado no setor, que conta com 37 portos públicos e movimenta 76,7% do comércio exterior, somou só R$ 8,8 bilhões, segundo dados do Ipea. Isso representa algo em torno de 0,06% do Produto Interno Bruto (PIB)
O resultado disso pode ser visto em portos como o de Ilhéus, cuja movimentação nos últimos anos está em queda livre, afirma o diretor executivo da Associação de Usuários dos Portos da Bahia (Usuport), Paulo Villa. Enquanto isso, os dois outros portos do Estado (Aratu e Salvador) operavam no limite, à beira de um colapso, antes da crise mundial. "Sem alternativas, os exportadores foram em busca de outros terminais, fora da Bahia", diz Villa.
Fuga de cargas
Na opinião Paulo Villa, Ilhéus, que já foi um importante terminal da região, poderia ser modernizado e adaptado para alguns tipos de cargas. No caso da celulose, os exportadores estão a menos de 200 quilômetros (km) de distância. Mas a empresa prefere percorrer 500 km para exportar pelo Espírito Santo, por causa da falta de estrutura em Ilhéus, diz o executivo. "Isso provocou um fato curioso: enquanto o transporte nos três portos baianos caiu 28% nos últimos meses, as cargas do Estado movimentadas por outros terminais cresceram 27%." Só no primeiro semestre, o Porto de Ilhéus registrou queda de 38,8% na movimentação de cargas. Situação semelhante vive o Porto de Maceió, que viu a entrada e saída de navios minguar nos últimos meses.
O administrador do porto, Petrúcio Bandeira, explica que o fraco desempenho no primeiro semestre deve-se às dificuldades do setor sucroalcooleiro, que representa 70% das cargas do terminal. Nem mesmo as exportações de açúcar, que no região centro-sul subiram de forma expressiva, salvaram a movimentação de Maceió, que caiu 33,5% no semestre.
Para reforçar as receitas, o executivo comemora o aumento de escalas dos navios de turismo. "Teremos 63 escalas na temporada 2009/2010 ante 29 da estação passada. Não é como o transporte de carga, mas ajuda." A esperança do executivo é que a construção da Ferrovia Transnordestina consiga recuperar cargas perdidas para outros terminais. Para isso, no entanto, ele terá de trabalhar duro para reforçar as estrutura de Maceió, já que a ferrovia facilitará a chegada aos portos de Pecém de Suape, dois importantes portos da região.
Profundidade
Na avaliação do diretor executivo do Centro Nacional de Navegação (CentroNave), Elias Gedeon, além das instalações e equipamentos obsoletos, a maior deficiência dos portos é a falta de profundidade dos canais de acesso marítimo incompatível com as novas embarcações que estão sendo construídas no mercado mundial. "Vemos no setor terminais com calados de 20 anos atrás."
É o caso de Cabedelo, na Paraíba, com calado de 9,25 metros. A dragagem de aprofundamento do canal para 11 metros, prevista para agosto, foi adiada para novembro porque os estudos de viabilidade ambiental foram considerados insatisfatórios, diz o presidente do porto, Wagner Breckenfeld.
Por causa das limitações, Cabedelo não pode receber navios de contêineres, apenas graneleiros. Hoje o porto recebe, em média, dez navios (de pequeno e médio portes) por mês. Ou seja, está praticamente parado. Desde o início da crise, a movimentação de cargas caiu em média 36%, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex). "A falta de equipamentos e de dragagem nos causou um prejuízo muito grande. Deixamos de ser um porto competitivo e perdemos muita carga para nossos concorrentes. Mas ainda acredito em recuperação", diz Breckenfeld. (Por Renée Pereira - AE http://www.cruzeirodosul.inf.br/materia.phl?editoria=17&id=212667
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